domingo, 6 de fevereiro de 2011

MARIA, “MÃE DE DEUS”


15. Esta unicidade da pessoa em Cristo se actuou e foi perfeita não depois do parto virginal, mas no próprio seio da Virgem. Portanto, devemos atender com todo cuidado a professar não somente que Cristo é um, mas que sempre foi um. Seria uma blasfêmia intolerável sustentar que agora Cristo é um, mas que durante um determinado período de tempo existiram dois: um Cristo depois do baptismo; dois, entretanto, no momento do nascimento. Podemos evitar assim tão grande sacrilégio apenas se cremos que o homem se uniu a Cristo na unidade da pessoa já e desde o seio materno, no mesmo instante da concepção virginal, e não no momento da ascensão ou da ressurreição, ou no momento do baptismo. Em virtude desta unidade da pessoa se atribui indiferentemente e de maneira indistinta ao homem o que é próprio de Deus, e a Deus o que é próprio da carne. Por inspiração divina foi escrito que o Filho do homem baixou do céu e que o Senhor da majestade foi crucificado na terra. Assim nós dizemos que o Verbo de Deus foi feito, que a Sabedoria mesma de Deus foi aperfeiçoada, que a sua ciência foi criada, quando é a carne do Senhor que foi feita, criada, como foi predicto que as suas mãos e os seus pés seriam traspassados. Por causa desta unidade da pessoa e em razão deste mesmo mistério, é perfeitamente católico crer que, quando nasceu a carne do Verbo de uma Mãe incontaminada, foi o mesmo Deus Verbo quem nasceu de uma Virgem. Negá-lo seria uma grande impiedade. Ninguém, pois, pretenda jamais privar Maria Santíssima do privilégio desta graça divina e de uma glória tão especial. Pelo querer determinado do Senhor, Deus nosso e Filho seu, devemos proclamá-la com toda verdade e acerto Theotokos, Mãe de Deus. Não, certamente, o entendendo no sentido de uma heresia ímpia, a qual sustenta que Maria pode ser dita Mãe de Deus só de nome, enquanto que engendrou um homem que depois se converteu em Deus; ao modo como usamos comumente a expressão: mãe de um sacerdote ou mãe de um bispo, não porque estas mulheres tenham engendrado um presbítero ou bispo, mas porque puseram no mundo homens que depois se fizeram sacerdotes ou bispos. Não neste sentido, repito, Maria Santíssima é Mãe de Deus, mas, como se disse antes, porque no seu sagrado seio se realizou o mistério sacrossanto pelo qual, em razão de uma particular e única unidade da pessoa, o Verbo é carne na carne, e o homem é Deus em Deus.

"COMMONITORIUM"


São Vicente de Lerins